Alina Borges

As cadeiras do Centro Cultural UFG não foram suficientes para todas as pessoas que se reuniram na noite desta sexta-feira (14/12) para prestigiar a décima terceira edição do FAV Fashion. Mas o público não pareceu se importar. Em pé, apoiados nas escadas da plateia ou até mesmo sentados no chão, qualquer forma era válida para apreciar as criações dos dezessete formandos do curso de Design de Moda da Faculdade de Artes Visuais (FAV). Neste ano, em homenagem aos 58 anos do curso de artes visuais, o desafio era criar coleções totalmente inspiradas na arquitetura do prédio da FAV, no universo das artes que a instituição ajuda a consolidar em Goiás e nas próprias vivências dos estudantes durante a graduação.

A professora e coordenadora do evento, Lorena Abdala, explica que o projeto é uma forma de fechar o ciclo de aprendizado de uma maneira prática e lançar os estudantes para o mercado de trabalho. Além de ser uma vitrine para as coleções, expondo todo o potencial ao público e profissionais do ramo, o desfile “envolve também gestão de pessoas, de orçamento, de espaço, produção de arte, produção de moda. Eles têm uma experiência mais imersiva em todas as camadas, não apenas na criação. É um modo de fazer com que eles experienciem na prática o que eles vêem só na teoria ou conhecem nas revistas e TV”, ressalta.

Assim, no final da noite, quando a banda Dom Casmata (GO), que deu tom e ritmo às modelos, guardou os instrumentos e o público começou a deixar o teatro, o que restava aos estudantes estilistas era a sensação de dever cumprido e a certeza de estarem ainda mais preparados para os novos desafios que os esperam do lado de fora da faculdade. “Eu não tinha experiência nessa área de criação e agora me sinto mais completa para estar no mercado de trabalho”, explica Carina Pontes, que apresentou ao público as peças da coleção “Interferências”.

Em suas três obras, a estudante de 21 anos, retratou uma universidade viva e em constante movimento, feita pelas pessoas que por ela passam. “Eu acho que, no fim das contas, nós fazemos parte desse universo que é a faculdade, nós o construímos, interferimos nele a todo instante e todo mundo que já passou por ali é um pouco o que a faculdade é hoje também. Então eu quis retratar que cada um de nós fazemos parte do conceito do que é a FAV hoje e, para isso, eu utilizei como inspiração algumas pinturas de desenho da sala 32”, explica.

Neste sentido, a graduanda Fátima Carvalho também aproveitou as artes da Faculdade de Artes como guia para compor suas roupas. Segundo a estilista que, aos 38 anos já assina duas marcas, a coleção “BLEU, instante sublime” foi pensada como um “contraponto entre a leveza e a força existente no universo de uma mulher, inspirada em um quadro do acervo da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Fátima contou que se sentia realizada. Mesmo com toda sua trajetória, a faculdade foi um momento fundamental e marcante para ela onde ela pode estudar aquilo que já fazia em sua carreira e descobrir novas perspectivas no setor. “Eu já tenho um trabalho bacana na área. Então, a faculdade veio para complementar essa profissão. Porque o processo produtivo e criativo precisa de um processo inspiracional. Eu já sabia o que fazer, mas fazer com sentido é muito melhor”, revela.

Assim, nenhum único ponto das costuras dos alunos foi feito sem um propósito definido. As roupas contaram histórias, mostravam os universos dos próprios estudantes e, como suas vidas se costuravam com a instituição cinquentenária que os acolheu. Se em sua coleção Carina traduziu como as pessoas interferem no espaço e moldam a FAV, Evando de Jesus Silva deixou que suas roupas contassem como a universidade mudou sua própria vida. Vindo do interior, o jovem, mostrou ao público a seu “Trajeto”, nome que deu ao conjunto das três peças apresentadas ao público. “Eu quis mostrar como sair de casa e chegar a Goiânia me influenciou durante o período de formação. Como eu mudei e me encontrei”, revelou.

Mas o caminho de Evandro não começou apenas ao passar no vestibular. Aos 23 anos, ele explica que chegar àquele momento foi a realização de um sonho que teve durante a vida toda. “Desde criança, eu sempre desenhei bastante, sempre estive muito ligado no mundo da moda. É realmente uma realização, porque a gente estuda o período todo da universidade com a intenção de ter esse momento”, declarou.

Na mesma linha do estudante, Lorrane Poltronieri também buscou inspiração na trajetória dos alunos na FAV. Em formas geométricas e orgânicas, a formanda de apenas 20 anos, ressignificou a forma poética com que se dava a relação entre a faculdade e os alunos. Como se as linhas da arquitetura do prédio completassem os traços das pessoas que por ali passaram.

Poder ver todo o conceito criado pela filha sendo apresentado para tantas pessoas e aplaudido com entusiasmo foi muito gratificante para Sueli Raquel Poltronieri. A mãe, que a princípio desconfiou da ideia da menina de cursar moda, ressaltou com orgulho os feitos da jovem naquela noite. “Para nós é uma alegria muito grande ver nossa filha nessa conquista, alcançando um objetivo. Para mim foi muito emocionante, muito bonito”.

E assim, a história da Faculdade de Artes se materializou em tecidos, cores, aplicações, botões, enfim, elementos que expressaram a relação de cada estudante com a instituição de ensino. O FAV Fashion de 2018 terminou, mas os sentidos e sentimentos vivenciados naquela noite ficarão para sempre. Afinal, como escrito na sinopse do evento, “as coleções apresentadas revelam persistência, dedicação e acima de tudo amor pela moda”, o que, com certeza, os estudantes levarão para vida toda.