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Universidade Federal de Goiás
Painel Econômico

PAINEL ECONÔMICO

Em 19/09/19 15:30.

Não será fácil para a economia goiana alterar o cenário de baixo crescimento que se desenha para este ano

Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – Nº 113, setembro de 2019 

Ao longo de vários anos, a economia goiana caracterizou-se por apresentar crescimento econômico acima da média nacional. Em valores correntes, o PIB de Goiás, que era cerca de R$ 106,7 bilhões em 2010, atingiu R$ 165,0 bilhões em 2014. Nesse período, não houve um ano em que a taxa de crescimento do PIB goiano não superasse a nacional. O noticiário relativo a esse movimento na economia ultrapassou as fronteiras goianas e concorreu para que o estado se tornasse um grande receptor líquido de migrantes, que vêm especialmente de Minas Gerais, Bahia, Maranhão e Distrito Federal à procura de melhores oportunidades de trabalho. Embora possua taxa de fecundidade menor do que a do Brasil, Goiás tem apresentado elevação de sua população em taxas superiores às nacionais. As últimas estimativas do IBGE dão conta de que o estado atingiu mais de 7 milhões de habitantes em 2019, com crescimento de 1,4% em relação ao ano anterior, enquanto que, ao atingir 210 milhões de habitantes, o crescimento populacional do país foi de 0,79%. 

Contudo, a crise econômica iniciada em 2014 parece ter atingido Goiás com mais ímpeto do que o Brasil como um todo. O setor de serviços goiano não cresce desde 2015, ficando sempre abaixo da média nacional; depois do tombo de quase 28,0% entre 2015 e 2017, o comércio varejista parou de cair em 2018, mas praticamente não cresceu, apresentando variação de apenas 0,1%; a indústria do estado vem operando acima da média nacional, mas parece estar andando de lado, com quedas em 2016 e em 2018; nesse período, o único setor da economia goiana que ainda continuou com crescimento mais consistente e acima da média nacional foi o agrícola, cujo valor nominal da produção avançou cerca de 43,5% entre 2015 e 2018, contra 35,4% do Brasil. 

Em 2019, a julgar pelos últimos dados divulgados pelo IBGE, o cenário da economia goiana parece não ter apresentado grandes mudanças em relação àquele que vem sendo observado desde 2015. O setor de serviços acumula queda de 3,3% no ano em Goiás e aumenta 0,8% no Brasil; o comércio varejista cresce 0,8%, mas está abaixo da média nacional, de 1,2%; os resultados da produção industrial são mais animadores, com crescimento de 2,2%, frente a uma queda de 1,7% verificada em nível nacional; mas, no setor agrícola, os ventos parecem ter mudado: a estimativa para a produção de grãos (cereais, leguminosas e oleaginosas) do estado aponta para uma queda de 3,5% em relação a 2018, em direção oposta à produção nacional, que avança 5,8%. 

Os resultados da safra, se confirmados, poderão ser creditados à falta de chuvas que afetou principalmente a safra de soja, principal produto agrícola de Goiás. No tocante aos setores de comércio e serviços, há indícios de que a crise fiscal que assola o estado de Goiás tem contribuído para acentuar na economia goiana os efeitos das tensões econômicas que tiveram lugar no país no final de 2014. Os resultados desse processo acabam desembocando no mercado de trabalho. Goiás continua apresentando taxa de desocupação inferior à nacional, mas a diferença entre essas duas taxas, que já foi de 3,4 pontos percentuais no 4o trimestre de 2018, caiu para 1,5 ponto percentual no 2o trimestre de 2019. A taxa de desocupação do estado está em 10,5%, mas quando somada às pessoas subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas e àquelas que desistiram de procurar trabalho por desalentado, chega-se ao percentual de 19,1%, o recorde da séria iniciada pelo IBGE em 2012. 

Na sua última reunião realizada neste mês, o Comitê de Política Monetária – Copom, do Banco Central, reduziu mais uma vez a taxa básica de juros da economia brasileira, Selic, cujo patamar atual de 5,5% representa a mínima histórica dessa taxa. A inflação está controlada e a economia nacional cresce pouco, o que pode levar o Banco Central a continuar reduzindo a Selic. Esse movimento pode contribuir para melhorar a performance da economia nacional e também da goiana. Contudo, o Banco Central conta agora com um importante fator adicional de incerteza, que diz respeito às oscilações do preço do petróleo no mercado internacional, causadas pelos ataques à petrolífera estatal Aramco, da Arábia Saudita, que deram lugar à maior alta do preço do petróleo durante uma sessão desde a Guerra do Golfo, em 1991. Outra questão é que o movimento de queda da taxa básica de juros da economia brasileira chega muito lentamente aos tomadores finais de recursos, que continuam arcando com taxas elevadas de juros no momento de fechar seus contratos de empréstimos. 

A possibilidade de utilização da política fiscal para estimular a economia tem eco entre alguns economistas brasileiros, mas encontra-se atualmente limitada por conta da Emenda Constitucional 95, que restringiu por 20 anos os gastos do Governo Federal, impondo ao país um rígido controle dos gastos públicos, que só podem aumentar em linha com a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Do lado do Governo Estadual, o impulso à economia goiana pela via dos gastos públicos esbarra no desajuste das finanças do estado, que tem, inclusive, extrapolado os limites de gastos com pessoal estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Tudo isso sinaliza que não será fácil para a economia goiana alterar o cenário de baixo crescimento que se desenha para este ano.

Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – N. 113/setembro de 2019. Equipe Responsável: Prof. Dr. Edson Roberto Vieira, Prof. Dr. Antônio Marcos de Queiroz e o bolsista Matheus Vicente do Carmo.

Fonte: Secom UFG

Categorias: colunistas