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Universidade Federal de Goiás
ensino remoto

Estudo avalia condições dos universitários após ensino remoto emergencial

Em 24/01/22 16:29. Atualizada em 24/01/22 17:13.

Queda de renda familiar, falta de equipamentos e vulnerabilidade se destacam nos dados da pesquisa realizada em parceria da UFG, IFG e UEG

Kharen Stecca

Falta de ambiente apropriado de estudos, de equipamentos e queda na renda familiar são alguns dos problemas vivenciados pelos estudantes do Ensino Superior goiano durante o ensino remoto emergencial que teve início em março de 2020 com a pandemia da Covid-19. Estas são constatações da pesquisa desenvolvida pelo Observatório do Estado Social Brasileiro e pelo Observatório do Mundo do Trabalho. Os pesquisadores concluíram um relatório que oferece um retrato do Ensino Emergencial Remoto a partir das experiências discentes no Instituto Federal de Goiás (IFG), na Universidade Federal de Goiás (UFG) e na Universidade Estadual de Goiás (UEG).  

O estudante que retorna às salas de aula do ensino superior público não é mais o mesmo de dois anos atrás. Marcados por mortes de familiares devido à Covid-19, desemprego e redução de renda, as universidades precisam estar atentas a estas questões na hora de reformular seus planejamentos sejam de ensino-aprendizagem ou de assistência estudantil. A pesquisa envolveu 7.602 discentes que responderam 49 questões sobre a caracterização domiciliar, passando pela renda e pelas avaliações quantitativas e qualitativas das aulas síncronas e das atividades assíncronas. Os resultados confirmam as pesquisas recentes do IBGE, como a PNAD-Covid (2020) e a Síntese de Indicadores Sociais 2020 (IBGE, 2021). 

Alguns dados se destacaram na pesquisa: o percentual de discentes que declararam conviver com idosos e/ou crianças que demandam cuidado foi de 43,55%. Desse total, 61,15% são mulheres, o que traduz a vulnerabilidade relacionada ao gênero. No Brasil, segundo a PNAD (2021), o rendimento domiciliar per capita foi de R$ 1.349,00, sendo R$1.381,00 para homens, R$ 1.318,00 para mulheres e, caso essa mulher viva em Goiás, a média reduz para R$ 1.204,00. O rendimento reduz substancialmente quando a mulher é parda, negra e, principalmente, exerce trabalhos informais. As desigualdades de renda e gênero, portanto, foram acentuadas e atingiram os núcleos familiares dos discentes, determinando o desempenho acadêmico e escolar na modalidade de Ensino Remoto Emergencial.  

prejuízo na aprendizagem
Maior parte dos estudantes considera que houve prejuízo da aprendizagem com o Ensino Remoto Emergencial (ERE) 

 

Enquanto na sala de aula presencial o ambiente é homogêneo do ponto de vista da estrutura, o mesmo não acontece no ensino remoto. Por isso, a pesquisa avaliou várias informações sobre o contexto social dos estudantes. 

Outros dados também se destacam: 40% compartilhava o espaço em que realizava as atividades do ensino remoto emergencial, 53% receberam auxílio emergencial do governo e 67% afirmaram ter redução salarial durante o período. Entre os que trabalham 81% tiveram que trabalhar presencialmente durante esse período; 47% conviveram com pessoas no domicílio que tiveram covid e 6% perderam familiares para a doença. 

O estudo avaliou também o motivo para não abrir as câmeras durante as aulas. Segundo os dados, 25,4% dos discentes declararam não abrir as câmeras (por não sentirem-se confortáveis e/ou não possuir câmeras) durante as aulas e outros 25,69% declararem raramente abrirem as câmeras. Além disso, 34% dos discentes declararam participar das aulas a partir do celular. Esses dados podem demonstrar a discrepância existente nos ambientes de ensino agora tão diferentes entre os diversos estudantes que aderiram ao Ensino Remoto Emergencial. Para os autores do estudo, os dados desnudam a desigualdade social que, para muitos, estava fora dos muros das instituições públicas de ensino superior. Com esses dados é preciso planejar o retorno dos estudantes ao ensino presencial de forma a diminuir essas diferenças. 

 

Estudantes da UFG

 

respondentes ufg
No quadro o local de residência dos estudantes da UFG que responderam à pesquisa

 

O estudo também foi realizado isolando os dados da Universidade Federal de Goiás, de forma a avaliar questões específicas desta instituição. Trinta cursos de graduação apresentaram percentual de respondentes em relação ao total de matriculados acima de 7,43%. Em dezessete cursos esse percentual foi superior a 15,5%. Um dos exercícios foi a seleção, sem a pretensão analítica, o primeiro curso em percentual do total de respondentes em relação às matrículas, de cada área do conhecimento e outros cinco cursos com maior número absoluto de respondentes.

estudantes por curso
No gráfico o número de estudantes que responderam a pesquisa por curso

 

 

Além de uma amostra da diversidade das condições de vulnerabilidade dos cursos de graduação da UFG, o exercício, segundo os pesquisadores, revela os desafios institucionais vinculados às esferas departamentais. A condição mais evidente de vulnerabilidade responde, segundo os critérios selecionados para o exercício, aos discentes respondentes do curso de Serviço Social e aquela com menor condição de vulnerabilidade corresponde aos discentes respondentes do curso de Engenharia Elétrica. É preciso ressaltar, no entanto, que se trata de um exercício, por assim dizer, arbitrário, a partir daquelas variáveis relacionadas à renda e à redução da renda. 

A intenção é mostrar a necessidade de reconhecer esses estudantes em situação de vulnerabilidade buscando um exercício de reflexão e acolhimento, evitando a evasão do curso devido à essas condições que se deterioraram com a pandemia.

A Pesquisa ERE-UFG ofereceu, apenas, pistas da situação de vulnerabilidade que coloca em risco o projeto de universalização e democratização do acesso ao ensino público superior gratuito e de qualidade. 

Para os pesquisadores, o paradoxo, de uma das instituições mais relevantes das democracias ocidentais, pode assim ser resumido: ao mesmo tempo em que a universidade responde, criticamente ao intenso processo de desigualdade social, ela também contribuiu, historicamente, com a reprodução dessas desigualdades. Não se pode negar que essa desigualdade esteja grafada na epiderme dos 21.264 discentes que esperam, ansiosamente, o retorno, mesmo que gradual, das atividades presenciais (UFG, 2021). Pesa, para a fração mais significativa, 70,7%, composta de jovens de 15 a 24 anos, a responsabilidade de construir uma carreira profissional em um país que registra a maior erosão da renda, o maior desemprego e o mais intenso processo de precarização do trabalho desde a democratização. Pesa, para os 51,25% de pardos, pretos e indígenas matriculados, vencer os preconceitos de cor e, ao mesmo tempo, nos lembrar que tais preconceitos não terminam com o ingresso na universidade. Pesa, para 48,21% de um universo de discentes composto por alunas, o peso de uma sociedade que louva a divisão sexual do trabalho. 

 

Saiba mais:

 

Estudo completo IFG, UEG e IFG

http://obsestadosocial.com.br/documentos/relatorio-ensino-remoto-emergencial-e-vulnerabilidade-discente-ifg-ueg-ufg/

Microdados da Pesquisa 

http://obsestadosocial.com.br/documentos/microdados-pesquisa-ensino-remoto-emergencial-e-vulnerabilidade-discente/

Confira o estudo completo com dados dos estudantes da UFG

http://obsestadosocial.com.br/documentos/ensino-remoto-emergencial-e-vulnerabiliade-discente-na-ufg/

Fonte: Secom UFG

Categorias: destaque Iesa Humanidades