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Universidade Federal de Goiás

Laboratório de Pesquisa da Doença de Chagas da UFG é referência internacional

Em 13/03/13 17:07. Atualizada em 24/11/14 14:13.

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Publicação da Assessoria de Comunicação da Universidade Federal de Goiás 
ANO VII – Nº 56 – MARÇO – 2013

Laboratório de Pesquisa da Doença de Chagas da UFG é referência internacional

Pesquisas desenvolvidas em parceria com órgãos do governo e com instituições internacionais destacam a UFG no campo da doença de Chagas

Texto: Anamaria Rodrigues | Fotos: Divulgação, Carlos Siqueira e Thamara Fagury

 

 

Criado há 36 anos, o Laboratório de Pesquisa da Doença de Chagas do Hospital das Clínicas (HC) cresceu e tornou-se referência internacional, sendo considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como “Laboratório de Referência”. Atualmente, além de atender à comunidade, realiza diversas pesquisas em parceria com órgãos nacionais e internacionais. O laboratório funciona em conjunto com o Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP), a Faculdade de Medicina (FM) e o Hospital das Clínicas, tendo funcionários disponibilizados pelas três unidades.


Uma parceria em destaque é o projeto “Epidemiologia comparativa de linhagens genéticas de Tripanosoma cruzi” financiado pela Comissão Europeia. Coordenado pela London School of Hygiene and Tropical Medicine, o projeto integra 15 instituições, sendo oito da América do Sul e sete da Europa. O Brasil é representado pela UFG e pela Fiocruz-RJ,  tendo a UFG recebido para a realização do projeto o financiamento de €75.000,00. Essas instituições, ao longo de cinco anos, desenvolveram pesquisas relacionadas ao protozoário Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas, e buscam assim, um melhor entendimento da epidemiologia da doença, discutindo a sua distribuição e os seus fatores de influência na população.


Alejandro Luquetti Ostermayer (IPTSP), professor voluntário do Laboratório de Pesquisa da Doença de Chagas e coordenador do projeto na UFG, explica que em cada local a manifestação da doença é diferente. “A doença é um pouquinho diferente de país para país. E é disso que estamos tratando, a epidemiologia”, diz Alejandro Luquetti. Responsável pelo laboratório e integrante do projeto, a biomédica Suelene Brito do Nascimento Tavares informou que amostras de sangue foram colhidas de um grupo de 720 pacientes cadastrados no laboratório que não haviam sido tratados e estavam em fase crônica da doença. Depois disso, fez-se a cultura e o parasito foi isolado. “A partir desse parasito isolado foram realizados testes de biologia molecular, para comparar a epidemiologia do  Tripanosoma cruzi”, afirmou. As pesquisas serão concluídas até o fim de 2013.

O barbeiro

O barbeiro é o principal agente transmissor da doença

A instalação do Trypanosoma cruzi na corrente sanguinea

Uma vez na corrente sanguínea, o Trypanosoma cruzi instála-se em órgãos musculares

Demostração do aumento do coração atingido pela doença de Chagas em relação a um normal

Demostração do aumento do coração atingido pela doença de Chagas em relação a um normal

 

Avaliação externa

O Ministério da Saúde por meio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) criou em 2001 o Programa de Avaliação Externa da Qualidade (AEQ) que tem como objetivo fornecer aos serviços de hemoterapia (bancos de sangue) um meio eficiente e gratuito para a avaliação externa da qualidade. A Anvisa determina que todo serviço de hemoterapia deve estabelecer um programa de controle de qualidade tanto interno quanto externo, de forma a garantir a adoção das normas, procedimentos, equipamentos, materiais e reativos. O programa tem foco na imunohematologia, uma espécie de estudo dos antígenos presentes no sangue (AEQ-Imunohematologia) e nos testes sorológicos (AEQ-Sorologia).


O AEQ-Sorologia tem a sua execução técnica realizada pela Bio-Manguinhos/Fiocruz (RJ) tendo a assessoria do Grupo de Assessoramento Técnico (GAT) multiprofissional, constituído por experts na área de sorologia para os marcadores sorológicos avaliados na triagem de doadores de sangue (entre eles o anti-HIV, doença de Chagas e Sífilis).


A UFG, por meio do Laboratório de Pesquisa da Doença de Chagas, integra o GAT, sendo a responsável pelas avaliações ligadas à doença de Chagas. Sua indicação para fazer parte do GAT deve-se a sua longa experiência no diagnóstico sorológico da doença de Chagas. Segundo Suelene Tavares, atualmente, dentro do programa são testados 113 bancos de sangue cuja avaliação é realizada anualmente por três rodadas de avaliações práticas e por duas teóricas.


O laboratório realiza, ainda, o controle da qualidade de instituições do país, como da Fundação Ezequiel Dias (FUNED), no estado de Minas Gerais, e até mesmo internacionalmente, como é o caso do Departamento de Diagnóstico Instituto Nacional de Parasitología “Dr. Mario Fatala Chabén”, em Buenos Aires, capital da Argentina. Neste caso, um painel de soro é enviado pelo correio para a Argentina como forma de testar os resultados dos exames realizados e saber se possuem boa qualidade. Esses resultados são emitidos de volta via e-mail.


Curiosidades

O nome doença de Chagas é uma homenagem ao pesquisador do Instituto Osvaldo Cruz, Carlos Chagas, que em 1909 descobriu a doença infecciosa que atingia operários do interior de Minas Gerais.

O protozoário causador da doença, Triypanosoma cruzi é transmitido pelo inseto conhecido popularmente como barbeiro. Este inseto possui hábito noturno e alimenta-se exclusivamente do sangue de animais vertebrados. Vive em casas de pau-a-pique, colchões, travesseiros, depósitos, ninhos de aves, troncos de árvores, sempre próximo ao seu alimento.


Ao se alimentar o barbeiro possui o hábito de, em seguida, defecar no local. Ao coçar a região picada, a própria pessoa leva o protozoário presente nas fezes do inseto para dentro da corrente sanguínea. Inicialmente ele vive no sangue e depois instala-se nas fibras musculares, principalmente coração, estômago e esôfago.

O parasito também pode ser transmitido de mãe para filho durante a gravidez e pela alimentação, por meio da ingestão de produtos contaminados. Já ocorram casos de contaminação pelo consumo de caldo-de-cana e da polpa do açaí que continham o inseto moído acidentalmente.

A melhor forma de se evitar a doença é por meio do controle populacional do barbeiro. Felizmente com o esclarecimento sobre a forma de contágio e a melhoria da qualidade de vida, a doença diminuiu muito no Brasil.

 

Ambulatório

O Ambulatório de Doença de Chagas foi criado em 1999 e desde então, o Hospital das Clínicas (HC) além de realizar os exames de sangue para a descoberta da doença de Chagas passou também a atender esses pacientes com um médico para cada especificidade da doença. Diariamente são atendidos no ambulatório, que é aberto apenas no período da manhã, cerca de dez pacientes portadores de alguma das formas de manifestação da doença: cardiopatia, megacolon ou megaesôfago. A maioria desses pacientes não havia sido tratada anteriormente. Os que sofrem de alguma cardiopatia são encaminhados para o Ambulatório Geral do HC.

Armazenamento de amostras 

Atualmente são armazenadas 28 mil amostras de soros extraídos do sangue dos pacientes asssistidos pelo laboratório, que servem como registro histórico dos casos da doença e fonte de pesquisas


Em geral, os pacientes que chegam ao HC com suspeita de possuírem a doença são encaminhados pelos médicos de postos de saúde da capital e do interior. No HC os exames são realizados e, se detectada a infecção, o paciente pode realizar o tratamento no próprio hospital tendo de retornar de ano em ano para acompanhamento. Como é o caso de Josefa Soares da Silva, 88 anos, que realiza o tratamento há 10 anos. Josefa Soares mora em Vianópolis e uma vez por ano sai de sua cidade acompanhada por sua filha, Elisa Francisca Soares, às três horas da manhã para conseguir chegar ao HC às sete horas. Segundo Elisa Soares, sua mãe apresenta cardiopatia e desde que passou a realizar o tratamento tomando remédios para o controle da pressão arterial não houve a necessidade do constante acompanhamento.


Já para Rosilda Rodrigues Mendonça, 52 anos, o acompanhamento é mais frequente, acontecendo no máximo a cada seis meses. Há 20 anos frequenta o hospital para tratar de megaesôfago. Descobriu o problema quando começou a ter dificuldades para engolir, ao ponto de não conseguir comer e acabar perdendo peso. Em momentos de tensão nervosa logo surge a dificuldade para engolir a própria saliva, sendo preciso correr para o hospital. Ela realizou três cirurgias no esôfago e em 2011, uma no intestino por consequência da doença. Com o tratamento, atualmente consegue comer alimentos que antes eram impossíveis como, por exemplo, churrasco. “Tenho um documento da minha gastroenterologista que quando eu tiver uma crise autoriza que eu realize uma endoscopia imediatamente”, afirma Rosilda Mendonça.

 Pesquisadores e pesquisas

Pesquisador Tapan Bhattacharyya, da London School of Hygiene and Tropical Medicine, Inglaterra, Biomédica Suelene Brito do Nascimento (LPDC), Alejandro Luquetti (IPTSP) e Christian Douglas Rodrigues Paula, bolsita do projeto Chagas Epinet


Há casos em que é possível o tratamento etiológico, destinado a matar o parasito. Esse tratamento é realizado por meio de medicamentos que apresentam eficácia acima de 80% na fase aguda e de 8% a 30% na fase crônica. É considerado complicado, pois há problemas quanto aos fortes efeitos colaterais, ao tratamento prolongado e à resistência de alguns tipos de parasitos. Mas, uma vez atingido o objetivo, o paciente não terá mais preocupações ligadas a essa doença.


O Hospital das Clínicas da UFG, localizado na Praça Unversitária, em Goiânia, é um dos poucos lugares do mundo que realizam esse tipo de tratamento para os doentes de Chagas.

 

Marco  Marco  Marco

Marco nas descobertas sobre a doença de Chagas


Com diversas atuações importantes dentro da UFG, como a participação na criação da Faculdade de Medicina, do Hospital das Clínicas e da Editora UFG, o professor Joffre Marcondes Rezende também é uma referência importante nas pesquisas realizadas sobre a doença de Chagas. Para a Medicina, principalmente na área de Gastroenterologia, o conhecimento sobre a doença de Chagas possui duas fases: antes e depois da descoberta do professor Joffre Marcondes Rezende sobre o comprometimento do esôfago no desenvolvimento da doença.


A pesquisa desenvolveu-se entre as décadas de 1950 e 1970 e antes disso não era de conhecimento da Medicina a causa do megaesôfago, um aumento do diâmetro do esôfago, que provoca o chamado “embuchamento”. O que se sabia até então girava em torno de suspeitas e as dúvidas foram tiradas quando os professores Joffre Rezende e Anis Rassi, por meio de estudos anatomopatológicos (nos quais são estudadas peças do organismo alteradas por processos patológicos) confirmaram o comprometimento do aparelho digestivo pela doença de Chagas. Ou seja, descobriram que o aumento do esôfago é uma consequência da doença.


A partir disso o professor Joffre Rezende criou a classificação do megaesôfago usada nacionalmente, a “Forma Digestiva”, que determina os graus de comprometimento do órgão e cada grau com a sua repercussão clínica. Devido a esses estudos o professor foi convidado para um congresso na Alemanha em 1962, além de receber a comenda Carlos Chagas em 1980 pelos seus relevantes serviços prestados à Medicina. O professor aposentou-se pela UFG em 1987, recebendo em 1988 a honraria de Professor Emérito da UFG. Em 2008, foi o quarto escolhido na história da Universidade de Brasília (UnB) a receber o título de Professor Honoris Causa.

Arquivos relacionados Tamanho Assinatura digital do arquivo
56 p 8 e 9 214 Kb 7770adbc12068d12b183df8f5620bec4