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Universidade Federal de Goiás

Bacia do Rio Araguaia: Pesquisas completam 15 anos e apresentam dados preocupantes

Em 08/10/13 14:52. Atualizada em 24/11/14 14:13.

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Publicação da Assessoria de Comunicação da Universidade Federal de Goiás 
ANO VII – Nº 62 – SETEMBRO – 2013

Bacia do Rio Araguaia: Pesquisas completam 15 anos e apresentam dados preocupantes

Segundo estudos do Labogef, assoreamento e hidrovia são as principais preocupações quanto à maior riqueza natural goiana

Texto: Erneilton Lacerda | Foto: Carlos Siqueira

Bacia do Rio Araguaia

 

O ano de 1998 foi marcante para o Instituto de Estudos Socioambientais (IESA) da UFG. Nele, foi criado o Laboratório de Geomorfologia, Pedologia e Geografia Física (Labogef), e também foi o ano em que se iniciaram as pesquisas na bacia do Rio Araguaia, com o Programa de Pesquisas para o Desenvolvimento Integrado da bacia do Rio Araguaia (Pamira) e a organização do International Symposium on Geomorphology and Paleohydrology of Large Rivers, que contou com a participação de pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Ao longo desses quinze anos, os estudos foram fundamentais na compreensão da dinâmica ecológica e ambiental do principal bem natural goiano. O alerta que esses estudos trazem é que o Rio Araguaia corre sérios riscos.

A bacia hidrográfica do Rio Araguaia representa aproximadamente 25% do território goiano e abriga 8% da população do Estado. Segundo a pesquisadora Selma Simões de Castro, o processo erosivo e de assoreamento é a principal preocupação em relação à bacia atualmente, “porque, de fato, nos últimos anos, pouca coisa foi feita em termos de controle. Agora, com a implantação do novo Código Florestal, pode ter diminuído ainda mais a possibilidade de recomposição de Reservas Legais (RL) e das Áreas de Preservação Permanente (APP)”.

Na alta bacia do Araguaia, concentram-se mais de 300 focos erosivos, sendo um quinto deles de grande porte (de 300 a 4 mil metros de ramo principal). A maioria desses focos surgiu na década de 1980. Para a professora Selma Simões, há uma estreita relação entre o uso e a ocupação inadequados do solo e a fragmentação da cobertura vegetal natural e o isolamento dos remanescentes do Rio Araguaia. Pesquisas recentes estimaram que o desmatamento e as mudanças no uso do solo afetaram cerca de 70% da área de estudo e o rebanho mostra um incremento na ordem de 400% nas últimas décadas.

Além disso, a professora menciona a expansão da fronteira agrícola nacional dos anos 1970, que chegou à área na década seguinte e desconsiderou os solos e setores sensíveis da paisagem. Resultados como os apontados demonstram a má implementação de políticas públicas, “cujos efeitos negativos se acumularam nas últimas quatro décadas aproximadamente, sem solução eficaz em longo prazo, e que podem comprometer ainda mais os recursos hídricos, a biodiversidade, os solos e, consequentemente, a economia”, defende Selma Simões. A pesquisadora espera, todavia, que os resultados obtidos possam constituir subsídios relevantes para as políticas públicas, no que concerne à sustentabilidade de toda aquela região.

Além da própria universidade, as pesquisas do Pamira receberam apoio financeiro de diversos órgãos, como do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp), da Fundação de Amparo à Pesquisa de Goiás (Fapeg) e da Embrapa Solos do Rio de Janeiro.

 

Gado em áreas de preservação

Presença de gado em áreas de preservação às margens do Rio Araguaia

 

Eixos de pesquisa: Impactos ambientais

• Estudo da fragmentação da cobertura vegetal e suas relações com as APP, considerando o novo Código Florestal.

• Levantamento e estudo do comportamento dos focos erosivos em escala de ultra detalhe e o desenvolvimento desse processo, considerando o comportamento e funcionamento dos sistemas de solos do topo do relevo aos fundos de vale. Avalia a sustentabilidade da expansão da cana-de-açúcar e impactos decorrentes da substituição de usos anteriores.

• Qualidade dos recursos hídricos. Relaciona-se aos impactos dos usos do solo no próprio canal do Rio Araguaia, em termos de assoreamento e qualidade da água.

 

Preocupações

À época do início dos trabalhos, em 1998, a erosão hídrica intensa, do tipo voçoroca, motivou a criação dos eixos de pesquisa do Pamira. O problema ainda hoje afeta a alta bacia do Rio Araguaia, nas proximidades da nascente, em Mineiros, e também municípios circunvizinhos. Nessa região, predominam solos frágeis e a sedimentação afeta o canal do médio curso do rio nos arredores de Luiz Alves e São Miguel do Araguaia, o que alarga as margens e influencia na qualidade da água e nas praias e ilhas utilizadas pelo turismo.

O vice-coordenador do Labogef, o professor argentino Maximiliano Bayer, chegou à UFG também em 1998, por meio do Programa de Estudantes-Convênio de Pós-Graduação (PEC-PG) para alunos estrangeiros, pelo qual concluiu mestrado em Geografia e posteriormente o doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (CIAMB). Desde sua chegada ao Brasil, Maximiliano Bayer tem se dedicado às pesquisas na bacia do Rio Araguaia. “Foram 15 anos intensos. No início, as tarefas foram desenvolvidas, sobretudo, à criação de um banco de dados, os trabalhos de pesquisa eram escassos e diretamente não existiam informações básicas que permitissem avaliar a dinâmica do sistema fluvial. Assim, foram desenvolvidos trabalhos de conclusão de curso (TCC), além de várias dissertações de Mestrado e teses Doutorado, que nos permitem ter uma visão mais detalhada das alterações e mudanças ambientais que vêm sendo observadas nos últimos anos, sobretudo aquelas associadas ao avanço do agronegócio na alta bacia do Rio Araguaia.”

“O Rio Araguaia, de acordo com as nossas pesquisas, está sofrendo um desequilíbrio. Ele tem uma determinada capacidade de transportar materiais, mas, como a alta bacia está sofrendo com desmatamento, pecuária e agricultura intensivas, o aporte de sedimentos supera a sua capacidade natural de transporte. Em suma, o rio recebe material, mas não tem como transportá-lo”, preocupa-se o professor Maximiliano Bayer. Ele enfatiza que em vários trechos o rio está cada vez menos profundo e mais largo, surgindo assim mais praias que agradam aos turistas, mas que envolvem consequências nefastas para a manutenção dos diferentes ambientes na planície de inundação do rio. Maximiliano Bayer explica que, no trecho goiano do Rio Araguaia, existem mais de 500 lagos, que se encontram, em muitos casos, em estágio avançado de assoreamento e com a perda da capacidade de conexão com o canal principal do rio. “Isso resulta na modificação da dinâmica hidrológica e na impossibilidade da ocupação desses ambientes nos processos reprodutivos de muitas espécies de peixes, o que provoca uma notável diminuição da biodiversidade e perda de heterogeneidades de hábitats aquáticos.”

Os sedimentos citados pelo professor são compostos, principalmente, de minerais primários (areias quartzosas), que são transportados pelos afluentes até o sistema principal da bacia. As pesquisas estimam valores de 4.000 toneladas de sedimentos por dia que são transportados pelo sistema fluvial. Essa enorme quantidade de areia impossibilita, ao menos na parte goiana, a utilização do sistema fluvial do Rio Araguaia como uma hidrovia de uso contínuo. “Apesar disso, todos os anos, importantes grupos econômicos, principalmente ligados ao agronegócio, tentam dar força ao projeto. A atuação de nossos grupos de pesquisa se transforma numa resposta da sociedade diante desses cenários de rápidas transformações e mudanças associadas à deterioração dos recursos naturais”, acredita Maximiliano Bayer.

 

Características Rio Araguaia*

• Rio exclusivamente nacional, com bacia que drena área de cinco Estados, destacando-se Goiás e Mato Grosso, no que se referem às suas alta e média sub-bacias.

• A parte norte da bacia é uma área de contato entre o Cerrado e a Floresta Amazônica.

• A planície do Bananal é uma das maiores e mais desconhecidas áreas de sedimentação fluvial do continente.

• Sua planície contém extensas praias de areia, algumas móveis, utilizadas durante os períodos de estiagem para o turismo e para a reprodução de várias espécies.

* Com informações do Dossiê Araguaia, presente na edição 7 da Revista UFG, de 2009.

 

Biodiversidade do Rio Araguaia

Biodiversidade do Rio Araguaia está ameaçada pelo avanço do agronegócio e a má implementação de políticas públicas

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