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Universidade Federal de Goiás

Estudo avalia conforto térmico em feiras livres de Goiânia

Em 23/11/15 10:28. Atualizada em 25/11/15 08:22.

 

 

Estudo avalia conforto térmico em feiras livres de Goiânia

Laboratório de Climatologia Geográfica da UFG coletou dados na Feira Hippie e no Mercado Aberto sobre a variação nos parâmetros climáticos em diferentes meses do ano

Texto: Serena Veloso | Fotos: Carlos Siqueira | Gráfico: Divulgação

 

  Feira Hipie

Variações na temperatura da Feira Hippie e do Mercado Aberto de Goiânia foram avaliadas entre 2013 e 2014

 

As feiras ao ar livre são uma das mais tradicionais formas de comércio popular em Goiânia e constituem parte da história da capital. Atualmente, a cidade possui mais de 150 feiras livres dedicadas ao comércio de alimentos, roupas, calçados, artesanatos, entre outros artigos, o que envolve um grande número de trabalhadores. Mas será que as estruturas e a organização desses espaços estão adequadas para os trabalhadores realizarem suas atividades?

 

Uma pesquisa desenvolvida pelo Laboratório de Climatologia Geográfica do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa) da UFG avaliou, entre 2013 e 2014, o conforto térmico em duas feiras abertas da capital: a Feira Hippie, localizada no setor central, e o Mercado Aberto de Goiânia, situado na avenida Paranaíba. A proposta era coletar os dados ao longo do ano nos dois ambientes e observar as variações nos parâmetros climáticos, principalmente nos períodos em que as condições climáticas favorecem a elevação da temperatura. A partir do levantamento, foram analisados os períodos do ano e os horários do dia com maior desconforto térmico para os comerciantes no desempenho de suas atividades.

 

De acordo com a coordenadora da pesquisa e professora da UFG, Gislaine Cristina Luiz, o crescimento urbano nos últimos anos tem influenciado na modificação da variação espacial e temporal da temperatura e umidade relativa do ar, o que favoreceu, também, a mudança na sensação de conforto térmico em diferentes épocas do ano, em especial nas áreas onde há maior ocupação demográfica. No caso das duas feiras, essa mudança é perceptível, sobretudo, nos meses de agosto e setembro, quando o calor e a baixa umidade determinam maior desconforto térmico. Segundo a coordenadora da pesquisa, esses impactos apontam para a necessidade de considerar as condições atmosféricas como subsídio ao planejamento e desenvolvimento urbano.

 

O excesso de calor associado a baixos índices de umidade do ar, baixa velocidade dos ventos, ruídos e, ainda, quando associados à estrutura urbana não adequada, afetam a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas provocando desconforto

 

“O excesso de calor associado a baixos índices de umidade do ar, baixa velocidade dos ventos, ruídos e, ainda, quando associados à estrutura urbana não adequada, afetam a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas provocando desconforto”, explica Gislaine Cristina Luiz sobre o que motivou a realização do estudo, ligado a um projeto para detecção de ilhas de calor e frescor em Goiânia.

 

Um dos aspectos considerados pela pesquisa foi a sazonalidade climática de Goiânia. Com duas estações bem definidas, a capital goiana apresenta ao longo do ano um período marcado por elevadas temperaturas e baixa umidade relativa do ar, especialmente no final do inverno e início da primavera, entre os meses de agosto e outubro; e outro chuvoso, que vai de outubro a março, momento de maior intensidade das chuvas. Nesse contexto, a pesquisadora ressalta que durante as estações da primavera e verão a temperatura do ar chega aos seus maiores índices de elevação, o que influencia de forma determinante na sensação de desconforto térmico, principalmente se acompanhado de baixos índices de umidade.

 

Para fazer a avaliação, foi realizada mensalmente, em diferentes horários, a medição do índice de conforto térmico em cada uma das feiras e o acompanhamento das variações apresentadas na umidade do ar e na temperatura ao longo do dia. Com essas informações, foi traçado um comparativo dos meses e horários do dia em que os termômetros indicaram as temperaturas mais elevadas associadas a baixos índices de umidade. A partir daí, foi possível identificar os meses e os horários em que as condições climáticas de Goiânia, associadas às estruturas das duas feiras livres, propiciavam maior desconforto térmico.

 

 Feira Coberta

Organização da estrutura das feiras é uma das responsáveis pelo aquecimento

 

Comércio popular x clima

Considerada a maior feira a céu aberto da América Latina, a Feira Hippie existe há mais de 30 anos e já funcionou em diversos locais nas proximidades da região central da capital goiana, até se estabelecer ao lado do Terminal Rodoviário, na Praça do Trabalhador. Criada inicialmente como espaço para venda de produtos artesanais, próximo ao Parque Mutirama, a feira logo se popularizou e alcançou grandes proporções, sendo transferida para diferentes pontos com o crescimento do comércio e o aumento do fluxo de pessoas. Além da importância econômica, Gislaine Cristina Luiz destaca o papel da área comercial na reconfiguração espacial da cidade, já que, segundo ela, a feira "estimulou transformações socioespaciais que atingem, de forma significativa, as imediações da rodoviária de Goiânia".

  

Já o Mercado Aberto, instalado no canteiro central da Avenida Paranaíba, é mais recente, foi construído em 2003 pela Prefeitura de Goiânia como estratégia para a retirada dos ambulantes das ruas do centro da cidade e regularização das atividades por eles desenvolvidas. Ambas se situam justamente em uma área de grande impacto das ilhas de calor na cidade. Junto às condições climáticas, a pesquisadora alerta que a organização da estrutura dos espaços, a circulação de um grande número de pessoas, a dinâmica de funcionamento e a cobertura das barracas em lona provocam o aquecimento do local e dificultam a circulação de ar, o que incide na redução da umidade. “Principalmente nos meses de setembro e outubro, nós temos, nas duas feiras, um desconforto térmico já efetivado ao longo do dia para quem está transitando”, alega.

 

A estudante do curso de Ciências Ambientais, Késia Christina Santos da Paixão, pôde experimentar a sensação térmica nesses comércios durante vários dias em que realizou a pesquisa de campo e confirmou: “É bem desconfortável ficar nesses locais, pois até em dias frescos ou em dias em que estava chovendo, com o aglomerado de pessoas que circulam no espaço, fazia bastante calor”, declara.

 

 Temperatura feiras

Apenas no mês de julho foram registradas temperaturas dentro da faixa de conforto térmico nas duas feiras

 

Desconforto térmico prevalece

A pesquisa demonstrou que na Feira Hippie o desconforto térmico predominava em grande parte do dia ao longo do ano e que, em alguns meses, as altas temperaturas causavam um aumento nesse índice, mesmo em horários com menor incidência solar, como às 8h da manhã. “Ao longo do período analisado, na Feira Hippie, apenas o mês de junho de 2013 se inseriu em condições favoráveis de conforto térmico ao longo do dia, com temperatura efetiva entre 23,2°C e 25,4°C”, comenta Gislaine Cristine Luz, que apontou a coincidência do conforto térmico no mesmo mês, além de julho, no Mercado Aberto.

 

No mês de fevereiro, que corresponde a estação do verão, e setembro, início da primavera, foram registradas as maiores temperaturas em ambas as feiras. Na Feira Hippie, os termômetros chegaram a marcar 43ºC, às 13h, horário com grande incidência solar; enquanto no Mercado Aberto, entre 15h e 17h, a temperatura chegava à casa dos 38ºC. Para a pesquisadora, um dos fatores que determinaram menores temperaturas no Mercado Aberto em relação à Feira Hippie é a própria distribuição das barracas, dispostas em sentido linear na feira da avenida Paranaíba e, também, o fato de se situar em uma via ampla, o que facilita a circulação do ar.

 

Segundo Gislaine Cristina Luiz, as condições de desconforto térmico têm sido apontadas como extremamente prejudiciais à saúde dos indivíduos, sendo responsável pelo agravamento de problemas cardiovasculares, respiratórios, alérgicos, sobretudo entre a população de crianças e idosos. Por isso, ela acredita que os resultados obtidos podem ter aplicabilidade em pesquisas diversas que relacionam as condições climáticas à saúde dos feirantes e dos frequentadores desses comércios.

 

Para ler o arquivo completo em PDF clique aqui

 

Fonte: Ascom UFG

Categorias: conforto térmico IESA pesquisa Feiras livres