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Universidade Federal de Goiás
Laerte Guimarães

UFG: compromisso com o desenvolvimento sustentável e harmônico de Goiás

Em 17/05/22 12:15. Atualizada em 17/05/22 12:16.

Laerte Guimarães Ferreira Júnior*

No último dia 4 de abril foi divulgado o terceiro volume do 6º Relatório do Painel Intergovernamental para as Mudanças do Clima (IPCC), o qual reitera, de forma inequívoca, as bases físicas, os impactos e vulnerabilidades, bem como a necessidade de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, as quais já são uma realidade generalizada, rápida e intensa. No Brasil, quinto maior emissor global de gases de efeito estufa, essas mudanças, que afetam particularmente a Região Centro-Oeste, estão associadas principalmente aos desmatamentos, às transições da cobertura e uso da terra e aos muitos aspectos envolvidos, direta e indiretamente, na atividade agropecuária.

Este é o caso do Estado de Goiás, com cerca de 65% do território antropizado – afetado pela ação humana – e níveis de desmatamento ainda elevados e em ritmo crescente (92 mil hectares de novos desmatamentos só em 2021, o que representou um aumento de aproximadamente 25% em relação aos desmatamentos detectados em 2020).

Frente a essa realidade – que em âmbito regional já transformou metade do bioma Cerrado em áreas de pastagem e grãos, colocando em risco a segurança hídrica do País e tornando ainda mais vulneráveis as populações tradicionais, além de ameaçar a própria segurança alimentar de futuras gerações –, desde 2016 a Universidade Federal de Goiás (UFG) tem participado, ao lado do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do esforço oficial de monitoramento da cobertura vegetal nativa de todo o bioma Cerrado.

No âmbito desta iniciativa, coordenada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a UFG desenvolveu e lançou em outubro de 2020 a plataforma Cerrado DPAT (Deforestation Polygon Assessment Tool – https://cerradodpat.ufg.br), por meio da qual é possível acessar, de forma amigável e interativa, cada polígono de desmatamento detectado, em nível de propriedade rural, juntamente com algumas dezenas de bases de dados relevantes ao planejamento territorial e ambiental à escala municipal.

E, para além do monitoramento dos desmatamentos em curso, o que é essencial para a redução da supressão de áreas de vegetação remanescentes, principalmente em áreas de proteção permanente (APPs) e de reserva legal, a UFG também tem empenhado vários esforços na busca de alternativas para a expansão das áreas destinadas à produção de grãos, em consonância às melhores práticas de governança territorial.

Assim, e considerando a importância das áreas de pastagens, principal forma de uso das terras no País e em Goiás, e que correspondem a aproximadamente 21% e 47% dos territórios nacional e goiano, respectivamente, a UFG lançou no último dia 13 de abril o Atlas das Pastagens do Brasil (https://atlasdaspastagens.ufg.br), uma plataforma que disponibiliza, de forma pública e aberta, dados anuais sobre a área de pastagem no Brasil desde 1985, com uma precisão de 1 hectare.

O Atlas traz também dados sobre a qualidade dessas pastagens (desde o ano 2000, com aproximadamente 50 hectares de precisão) e estoques de carbono no solo associados às pastagens do bioma Cerrado (desde o ano 2000, com aproximadamente 100 hectares de precisão) – até o início de agosto teremos informações sobre os estoques de carbono para a totalidade das pastagens brasileiras.

Essas informações, juntamente com os dados de lotação bovina, limites de propriedades e muitas outras também disponíveis no Atlas, são essenciais para a otimização e intensificação da pecuária nacional, bem como para o uso das pastagens como reservas de terras abertas para outras finalidades. Em Goiás, por exemplo, 30% do total das pastagens apresentam elevada aptidão, sem qualquer restrição, para o plantio de soja. E desta importante reserva de terras, 65% apresentam indícios de degradação, o que torna ainda mais interessante, do ponto de vista econômico e ambiental, seu uso para outras finalidades. Com base nestes dados produzidos pela UFG, os quais se constituem em importantes subsídios para políticas públicas, com um aumento da lotação bovina em cerca de 35%, o Estado poderia aumentar em 73% a sua área de grãos sem comprometer a produção de carne e sem a necessidade de novos desmatamentos.

Em uma outra frente, a UFG, em parceria com o Inpe, está criando o Centro de Excelência em Estudos, Monitoramento e Previsões Ambientais para o Cerrado (Cempa Cerrado – https://cempa.ufg.br), o qual já está gerando, em caráter experimental, previsões de tempo para a totalidade do Estado de Goiás, com antecedência de dez dias e com níveis de detalhe e precisão inéditos ao que existe hoje disponível para o país. A expectativa é de que o Cempa possa prover dados de forma operacional o mais rapidamente possível, contribuindo de forma efetiva para diversos setores da sociedade, com destaque para a prevenção de desastres naturais associados a eventos climáticos extremos e a maximização da produtividade agropecuária (via melhores previsões e estimativas do regime de chuvas e de carga de água no solo).

As mudanças ambientais e climáticas são graves e irrefutáveis e se constituem no principal desafio da humanidade no século 21. Neste sentido, a plataforma Cerrado DPAT, o Atlas das Pastagens e o Cempa Cerrado, entre muitas outras inovações criadas pela UFG no curso da sua missão de formar recursos humanos de excelência por meio da produção de conhecimento, se constituem em instrumentos efetivos em apoio ao desenvolvimento sustentável e harmônico do Estado.

De fato, Goiás tem todo o potencial para se tornar uma referência para o Brasil e o mundo quanto à produção de alimentos, em grande escala, carbono neutro, agregando ainda mais valor às cadeias do agronegócio, ao mesmo tempo que também garanta a qualidade de vida das futuras gerações. Como tem feito há quase 62 anos, a UFG segue pronta, formando talentos e produzindo conhecimento, força motriz da economia contemporânea e alicerce do desenvolvimento socialmente referenciado.

*Laerte Guimarães Ferreira Júnior é professor do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa) da Universidade Federal de Goiás. Artigo originalmente publicado no Jornal Opção.

Fonte: Secom UFG

Categorias: artigo IESA