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Universidade Federal de Goiás

Bebês também interagem socialmente

Em 07/11/13 10:20. Atualizada em 24/11/14 14:13.

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Publicação da Assessoria de Comunicação da Universidade Federal de Goiás 
ANO VII – Nº 63 – OUTUBRO – 2013

Bebês também interagem socialmente

Considerada uma fase egocêntrica do desenvolvimento, pesquisas apresentadas na 36ª reunião da Anped investigam como se dão as interações sociais de crianças entre zero e três anos

Texto: Kharen Stecca | Foto: Vinícius Batista

Creche

Aproximação corporal e orientação dos cuidadores são essenciais para permitir a interação entre as crianças menores de três anos

 

Quando falamos de educação infantil, em especial de crianças entre zero e três anos, estamos tratando de um grupo com condições muito específicas e diferenciadas das demais crianças do ensino básico. Algumas características, como a ausência de linguagem, aumentam o desafio de se pesquisar a área, exigindo uma observação mais atenta para entender como o conhecimento se constrói nessa idade, a fim de incentivar os estímulos corretos. Para compreender essas peculiaridades do ensino infantil e propor os questionamentos necessários para essa etapa da vida, um dos grupos de trabalho da 36ª reunião da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped), realizada de 29 de setembro a 2 de outubro, reuniu professores de todo o país para discutir a educação de crianças entre zero e seis anos.

Na tarde do primeiro dia do evento, duas pesquisadoras expuseram suas pesquisas feitas com crianças entre seis meses e três anos incompletos. A primeira foi a pesquisadora Lucilaine Maria da Silva Reis, Mestra pela Universidade Federal Fluminense, observando a inserção e vivência de crianças pequenas, especificamente de dois anos de idade, que acabaram de entrar na educação infantil.

A pesquisadora ressalta que o nome anterior dessa fase era Adaptação. "O nome foi alterado, porque adaptação dá a ideia de ´adaptação às regras´, ao mundo que já está posto, o que traz um certo peso, como se aqueles que não se adaptam à escola, não se adaptariam à vida", explicou. Nas teorias levantadas por Lucilaine Reis, ela explica que, até pouco tempo, acreditava-se que as crianças precisavam ser controladas e, hoje, não é essa a visão de educação infantil. Segundo ela, a criança não apenas muda quando chega a um grupo, ela muda o grupo, ela recria sua realidade: "Sua capacidade criadora precisa ser considerada, sua vivência vai definir seu conhecimento futuro".

Lucilaine Reis acompanhou o período de inserção de algumas crianças em uma creche, em Niterói/RJ. Entre os casos levantados, ela trouxe o de duas meninas que entraram na educação infantil juntas e que já se conheciam. No início, com medo do novo, elas andavam de mãos dadas e se protegiam. Com o tempo, uma delas começou a fazer novas amizades e a buscar novos grupos, enquanto a outra não percorreu o mesmo caminho. "Inseridas juntas na mesma situação, com o tempo, cada uma reagiu de uma forma, o que mostra que a experiência, de cada ser é única, mesmo estando no mesmo contexto", ressalta.

Já em outra apresentação, a pesquisadora Angela Maria Scalabrin Coutinho, da Universidade Federal do Paraná, trouxe os resultados de sua tese de doutorado, que foi realizada dentro do contexto português de uma creche, na cidade de Braga, Portugal. Angela Coutinho se baseou nas teorias sociológicas de Max Weber e Anthony Giddens. Ela analisou, por 14 meses, bebês entre cinco meses e dois anos e oito meses, em uma creche com crianças de realidades socioeconômicas bastante distintas e que podiam ficar até 11 horas e 30 minutos. A pesquisadora realizou diversos registros, como fotos e, principalmente, vídeos. Sua intenção era perceber as relações sociais entre crianças tão pequenas e o quanto elas reagem ou são movidas pelos outros, em especial, por outras crianças. Ela queria entender como os bebês são capazes de alterar a estrutura em que estão presentes e o quanto conseguem partilhar sentidos.

Angela Coutinho explica que a aproximação corporal e a posse de objetos são as principais formas de interação, mas que isso também depende muito da forma como a professora permite que isso aconteça. Ela conta que a primeira turma analisada não tinha interação social, pois as crianças ficavam a maior parte do tempo nos bebês confortos. "Para interagir, os bebês precisam da aproximação corporal, mas isso depende da orientação dada pela cuidadora", explica.

Entre as constatações da pesquisadora, ela observou que as crianças costumam brincar em duplas e, às vezes, tríades e, por mais que se diga que crianças dessa idade são egocêntricas, há uma preocupação em satisfazer o outro nas brincadeiras e não permitir a entrada de outras crianças no jogo da dupla já definida. "É claro que as minhas observações podem não se repetir em outros contextos, mas elas trazem elementos para se pensar essa fase da educação infantil", ressalta.

Nesta idade, entre zero e dois anos, é comum considerar que as crianças têm mais interesse por objetos do que por pessoas. A pesquisadora mostra que há sim o interesse por peças materiais, mas que existe também a interação social, muitas vezes mediada por objetos. "Não é possível dizer se essa interação é realmente uma amizade, se há um sentido nela, mas é fato que ela existe", afirma Angela Coutinho.

Mas a constatação mais interessante se dá no contexto dos cuidadores dessas crianças. A pesquisadora ressalta que, mesmo em bebês, os adultos podem potencializar ou limitar a socialização. Ela conta que repassava sempre os vídeos às professoras e elas, ao verem o material, percebiam coisas que não conseguiam observar quando estavam em ação com as crianças. Para Angela Coutinho, o espaço e o tempo da creche precisam ser entendidos pelos educadores, para que as crianças realmente participem de um processo de socialização.

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